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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Hidropônicos conquistam fãs e sabor

Por Glenn Collins, de Nova York, The New York Times News Service/Syndicate

Hidropônicos conquistam fãs e sabor


Hidropônicos conquistam fãs e sabor
Michael Anthony admira tanto a alface-manteiga que tem comprado durante o último mês, que inventou uma salada própria para ela. O prato de US$ 12 servido no Gramercy Tavern em Manhattan, também leva picles de berinjela, ricota, picles de cerejas, e tomates 'selvagens’ – mas as folhas são a estrela, e com razão.
Frequentemente colhida apenas algumas horas antes de chegar em sua cozinha, a seis quilômetros da fazenda, a alface não poderia ser mais fresca, ou mais local. Ela possui quase tudo o que um chef exigente poderia pedir, exceto uma coisa: terra caindo de suas raízes.
A alface-manteiga é cultivada na Gotham Greens, novo jardim hidropônico na Greenpoint industrial, que coloca as sensações românticas da fazenda no coração da cidade. Em uma estufa de US$ 2 milhões, pequenos brotos emergem de sementes embutidas em pequenas esponjas, feitas de fibras fiadas de basalto vulcânico.
Água? É reciclada, de modo que apenas 2.650 litros sejam usados diariamente, um décimo do volume usado no cultivo convencional. Solo? É substituído por finas películas de água rica em nutrientes, servindo a centenas de leitos plásticos que embalam as raízes de verduras, alfaces e ervas culinárias.
O lustroso jardim, que de maneira improvável pousou no teto de um enorme prédio de dois andares – antigamente um boliche e espaço fabril – é uma das maiores estufas hidropônicas em escala comercial da América urbana, fornecendo uma produção primitiva e sustentável para restaurantes e varejistas de alto padrão.
Até recentemente, existiam duas associações comuns à hidroponia: maconha e falta de sabor. Mas, as operações de estado de arte ganharam convertidos entre os chefs que veneram a produção local e que celebram o 'terroir’.
“Esse volume de produção e esse nível de perícia é algo que nós nunca havíamos visto antes”, diz Anthony, sobre a produção da Gotham Greens. “Eles elevaram o negócio a outro nível”.
Butter lettuce from Gotham Greens, a new hydroponic garden in the industrial neighborhood of Greenpoint, in the Brooklyn borough of New York. The word "hydroponic" has long been associated with a lack of flavor, but state-of-the art operations, like Gotham Greens, have won converts among some chefs. (Chang W. Lee/The New York Times)
Richard Ball, who owns Schoharie Valley Farms who says he uses hydroponic methods to extend his growing season, holds crops of lettuce in Schoharie, N.Y., July 27, 2011. The word hydroponic has long been associated with a lack of flavor, but state-of-the art operations in some parts of New York have won converts among some chefs.(Stewart Cairns/The New York Times)
Até agora, a produção hidropônica “não substitui as verduras e legumes cultivadas nos campos” na cozinha da Gramercy Tavern, diz ele. No momento, “funcionam mais como um 'ator coadjuvante”'. E embora o abastecimento de produtos tenha rotatividade anual, e teoricamente possa corromper a crescente obsessão dos chefs pela sazonalidade, “ela realmente não desafia a nossa noção sobre as temporadas”, adiciona Anthony.
Mesmo assim, para André de Waal, chef e proprietário do elegante André’s Restaurant em Newton, Nova Jersey, “é tudo uma questão de escolha”. Ele tem comprado verduras hidropônicas há um ano de uma pequena estufa rural, a 15 minutos de seu restaurante, e diz que as verduras da Califórnia já estão com mais de três dias de idade, quando são entregues.
“Podendo escolher entre verduras cultivadas em solo, mas já velhas, e verduras hidropônicas super frescas, eu prefiro comprar as hidropônicas”, diz de Wall. “Não existe nada igual à sensação de trabalhar com produtos que já estão velhos”.
Os defensores da produção das estufas urbanas, há muito enaltecem os benefícios da proximidade, frescor, qualidade e geração de empregos.
“Para determinadas culturas, a hidroponia pode ser uma dádiva”, diz John Magazino, presidente da Primizie Fine Foods no Bronx, fornecedora de alto padrão de produtos que tem vendido safras hidropônicas, de fornecedores rurais para restaurantes. “Alface, chicórias, endívias e todas as ervas frescas vendem extremamente bem. E se a Gotham Greens puder cultivar cerefólios, que são difíceis de cultivar e transportar, ela fará a felicidade de muitos chefs de Nova York”.
Nem todos concordam. John O’Neil, vice-presidente sênior encarregado de compras para o Patina Restaurant Group, é um purista, que rejeita os produtos hidropônicos para os restaurantes da companhia, “porque eles parecem ser bonitinhos, mas lhes falta sabor”, diz ele. “Escolho a Mãe Natureza, todas as vezes”.

As culturas de campo, no entanto, também podem ser desafiadoras ao paladar, porque “podem ser afetadas por chuva demais, falta de chuva, muito sol, ou falta de sol”, diz Gene A. Giacomelli, designer hidropônico e professor de engenharia agrícola na Universidade do Arizona. Tanto para produtos cultivados em solo quanto os hidropônicos, diz ele, o sabor pode ser uma complexa mistura de genética, cultivares da planta (diferentes espécies), condições de cultivo e gerenciamento agrícola.
O’Neil talvez seja um foco de resistência incomum no mundo dos restaurantes de alto padrão, já que muitas cozinhas vêm utilizando produtos hidropônicos suplementares há meses, quando as fazendas comuns estão dormentes. No entanto, os chefs raramente vangloriam-se sobre o assunto, por causa do suposto estigma da falta de sabor.
Mas a produção hidropônica de alta qualidade e relativamente local, apenas recentemente tem aumentado sua disponibilidade, e “não apenas o mercado para essa produção está crescendo”, diz Giacomelli, “como também existe uma demanda do consumidor, e as pessoas estão dispostas a gastar mais para adquirir os produtos”.
Jenn Nelkin, a diretora da estufa Gotham Greens, de 32 anos de idade, diz que “nós criamos do nada nossas receitas para os nutrientes, e há uma receita diferente para cada planta”. O sabor, complementa ela, vem de uma variedade de compostos que incluem açúcares e óleos essenciais, e “se o produto for colhido já maduro, o sabor vai estar presente da mesma maneira”.
É claro, nem todos os fazendeiros de solo estão preparando-se para marchar até a Gotham Greens com tochas em punho, para colocar a cabeça de Nelkin numa estaca. Na verdade, “nós usamos métodos hidropônicos, irrigação por gotejamento e fórmulas de alimentação constante, para estender nossa temporada de cultivo”, diz Richard Ball, proprietário das fazendas Schoharie Valley em Schoharie, Nova York, e fazendeiro especializado pioneiro, que há muito tempo abastece cozinhas de alto padrão.
Porém, diz ele, o cultivo hidropônico “demanda capital e mão-de-obra intensivos, e requer manutenção sofisticada”.

As raízes, no solo de terra funda de Ball, rico em profundos depósitos glaciais de argila de silte, podem perfurar o solo por 3 metros ou mais.
“Eu argumentaria com fervor, dizendo que não há dúvida de que as pessoas podem sentir a diferença”, diz ele. “Na teoria, faz sentido que você possa ajustar os nutrientes no cultivo hidropônico, mas os solos são muito complexos. O solo é uma coisa viva. Você não consegue reproduzir meu solo em uma fazenda hidropônica”.
Giacomelli diz que “nós podemos não conhecer absolutamente todos os nutrientes que podem ser retirados do solo”, e adiciona, “mas em um teste de paladar, a pessoa frequentemente não consegue enxergar a diferença” entre safras de cultivo hidropônico ou convencional.
Sem dúvida, as instalações hidropônicas modernas mostram um grau crescente de sofisticação tecnológica. Enquanto os 25 empregados da Gotham Greens propagam, colhem e embalam à mão a produção, em seu espaço de 1.394 metros quadrados, uma estação meteorológica no telhado monitora ventos, chuva, temperatura, umidade, dióxido de carbono e intensidade da luz. Essa riqueza de dados trabalha para regular as bombas de irrigação, os respiradouros da estufa, os exaustores, as persianas do espigão e as cortinas de sombra.
Toda essa ambientação ajuda as safras a crescerem sem o uso de pesticidas, fungicidas ou herbicidas, e controladores naturais de pragas – como insetos parasitoides, crisopídeos e joaninhas – são introduzidos na estufa de 5 metros de altura, com seu piso principal de produção de 23 por 49 metros.
Enquanto todos os dados eletrônicos estão disponíveis no computador central do teto do edifício 810 da rua Humboldt, Nelkin, que também é sócia da companhia, pode visualizá-los em seu celular e conduzir a operação de qualquer lugar no planeta.
A única realidade dos velhos tempos a invadir essa fantasia futurística é o perfume exótico do pão de centeio escuro lituano e dos 'paczki’ (roscas polonesas), vindo dos fornos da Syrena Bakery, confiável panificadora polonesa a um quarteirão de distância.

Segundo Giacomelli, existem nos Estados Unidos apenas algumas poucas estufas em escala comercial como a Gotham Greens. A produção anual projetada da estufa, de 100 toneladas, é apenas uma minúscula fatia das mais de 1,5 milhão de toneladas que são importadas para Nova York, o maior mercado agrícola do mundo, e chega a ser insignificante quando comparada à do 'grande hidro’. Isso é o inventário das vastas operações de hidroponia comercial em áreas esparsamente habitadas do Arizona, Califórnia e Texas, onde a terra é barata e as estufas podem se estender por até 146 hectares.
Mas, por causa do aquecimento global, secas, instabilidade meteorológica e custos de energia em alta, a agricultura hidropônica, com produção dez vezes superior em relação à das safras cultivadas em solo, faz cada vez mais sentido.
“Todos nós estamos sujeitos aos recursos limitados no nosso planeta”, diz Giacomelli, “e precisamos aumentar os esforços para alimentar maiores quantidades de pessoas, com cada vez menos recursos”.
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