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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os contrastes da Eslovênia

Por Seth Sherwood, The New York Times News Service/Syndicate
Os contrastes da Eslovênia
Estava anoitecendo rápido na cidade eslovena de Piran, quando os carrilhões da Chiesa di San Giorgio me lembraram que o concerto de piano estava para começar. De acordo como o sol se punha sobre o Adriático, corri em direção da ampla Praça Tartini – cujo nome viera de Giuseppe Tartini, violinista e compositor italiano na era barroca – por cafés, onde grupos de eslovenos agitados devoravam linguiças Balkan e brindavam uns com os outros com a cerveja local Lasko.
Na neoclássica Casa Tartini – local de nascimento do compositor – uma mulher corpulenta com cabelo fúcsia me recebeu com um ousado “Buona Sera!”.
Encontrei meu lugar em meio a alguns casais trocando fofocas locais na língua de Dante, quando abri a programação e passei pelos sobrenomes dos pianistas da noite: Mihailic, Pocecco, Levanic, Prodi.
Esloveno, italiano, esloveno, italiano.
A mistura bicultural estava começando a fazer a minha cabeça girar. Em que terra estranha eu havia chegado? O híbrido ítalo-eslavo na costa da Eslovênia é apenas uma das muitas surpresas neste pequeno país de cerca de 2 milhões de pessoas. Em junho, viajei pela extensão do país de ônibus e de trem – por cidades, ao longo de costas, sobre montanhas – e encontrei mais surpresas: castelos de contos de fada, designers de entalhes, vinhos feitos por monges, uma planta frutífera que aparece nos recordes mundiais do Guinness e peixes humanos (o melhor fica para o final). E há também a folclórica cidade de Maribor, construída pelos Habsburgos austríacos e nomeada como Capital Europeia da Cultura para 2012.
Talvez a maior surpresa seja simplesmente a existência da Eslovênia, que está comemorando seu 20º aniversário como país independente este ano. Desde a Idade Média, a terra do povo esloveno tem sido repetidamente absorvida por impérios e ditaduras – os mercantis venezianos (por isso, a influência italiana), o Império Austríaco (e depois Austro-Húngaro) e finalmente a Iugoslávia, da qual os eslovenos se separaram em 1991, após uma guerra de dez dias contra o exército iugoslavo.
O passar dos anos mostra uma forte tendência rumo à integração europeia. A Eslovênia foi admitida na União Europeia em 2004 e adotou o euro em 2007.
An art gallery in Piran, Slovenia, July 25, 2011. Slovenia, a tiny nation full of fair-tale castles, cutting-edge culture and sleepy pastel port towns, is celebrating its 20th anniversary as an independent nation this year. (Andrew Testa/The New York Times)
A wine cellar underneath the city of Maribor, Slovenia, July 25, 2011. Slovenia, a tiny nation full of fair-tale castles, cutting-edge culture and sleepy pastel port towns, is celebrating its 20th anniversary as an independent nation this year. (Andrew Testa/The New York Times)
Seu aeroporto internacional, próximo à capital Ljubljana, está na metade de uma expansão de dez anos que futuramente revelará este país eslavo, normalmente ignorado, para o mundo.
A principal atração é certamente Ljubljana, cidade que transborda a glória dos Habsburgos. Depois de jogar minha mala no meu quarto revestido de madeira no barato, mas alegre Hotel Center, logo me perdi em alamedas de paralelepípedo com casas medievais alinhadas, igrejas barrocas e imponentes edifícios do século 19 – e muitas aberrações de concreto, deixadas de décadas de socialismo iugoslavo.
Apesar de apenas 280 mil eslovenos viverem na capital – incluindo cerca de 50 mil estudantes – a cidade parecia cheia de energia. Pôsteres anunciavam novos lugares como o Kino Siska, um antigo cinema transformado em uma casa de espetáculos. Em todo lugar, eslovenos bem vestidos passavam em bicicletas. Comparado com a antiga capital iugoslava de Belgrado, Sérvia, Ljubljana parecia um tipo de Copenhague eslava, um retrato da eficiência e da prosperidade.
“Historicamente pertencemos mais ao Império Austro-Húngaro e ao oeste, então sempre estivemos um pouco separados, esta pequena bolha que não se encaixava completamente” na Iugoslávia, disse Tanja Pak, designer de vidros perto dos 30 anos, quando estávamos tomando água misturada com suco de sambucu em seu bar em Ljubljana.
Comparado com seus primos na Bósnia, Sérvia e outras antigas partes da Iugoslávia, “sempre achamos que éramos mais organizados”, continuou ela em um inglês excelente, algo que quase todos com menos de 40 anos parecem falar.
Naquela noite, um bonde subiu a colina florestada no centro da cidade e me deixou no Castelo Ljubljana para uma refeição em seu novo restaurante no quintal, Gostilna na Gradu. O estabelecimento de um ano se orgulha de usar produtos orgânicos e resgatar antigas receitas eslovenas em vez de servir a mesma mistura previsível de pratos italianos, austríacos e sérvios, como maioria dos restaurantes locais faz. Logo os garçons estavam se apressando para me servir um amuse-bouche feito de pedaços de gordura de porco defumada, acompanhada de língua de boi finamente fatiada e um robusto ravióli de batata rodeado com guisado de cordeiro.
De manhã, um ônibus me levou por uma paisagem de florestas de pinheiros e distantes colinas chanfradas. Após duas horas, um dos segredos mais bem guardados de Eslovênia se abriu no horizonte: o infinito azul do Adriático.
Tanja Pak at her glass gallery in Ljubljana, Slovenia, July 26, 2011. Slovenia, a tiny nation full of fair-tale castles, cutting-edge culture and sleepy pastel port towns, is celebrating its 20th anniversary as an independent nation this year. (Andrew Testa/The New York Times)

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