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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Só 9% da alta da arrecadação é usada para investimentos(Reinaldo Azevedo)

Por Érica Fraga, na Folha:
Uma fatia pequena do aumento expressivo da carga tributária ocorrido desde meados da década de 90 se traduziu em novos investimentos públicos no Brasil. De cada R$ 100 a mais em impostos arrecadados entre 1995 e 2010, apenas R$ 8,6 foram direcionados para elevar investimentos feitos pelo governo, como construção de escolas e hospitais, ampliação de portos e aeroportos e melhorias em estradas. A conta é do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. A elevação significativa da carga tributária nos últimos anos serviu principalmente para sustentar o aumento dos gastos correntes do governo, que incluem benefícios sociais e salários de funcionários públicos. “Nós aumentamos a carga tributária para gastar mais”, afirma Schwartsman.
Os investimentos da chamada administração direta (incluindo governos federal, estaduais e municipais) cresceram R$ 56,9 bilhões entre 1995 e 2010, descontada a inflação. Esse aumento equivale a 8,6% dos R$ 661,6 bilhões a mais arrecadados. “O governo está tomando muitos recursos sob a forma de impostos e retribuindo muito pouco em investimentos”, diz o economista Marcelo Moura, do Insper. Moura ressalta que, em 2010, quase metade das despesas do governo federal foi direcionada a gastos sociais (como os programas de transferências de renda e a previdência social). Outros 25% cobriram gastos com servidores públicos e 6,8% se converteram em investimentos.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
VEJA

Como eu trato Lula e como o blogueiro oficial de Lula já me tratou. Eis por que somos tão diferentes

Critiquei um ator de quinta, um palhaço dos petralhas, que afirmou na CBN que os leitores do meu blog estavam se dirigindo a Lula de maneira imprópria, o que teria me levado a fechar a área de comentários — uma mentira óbvia. Todos sabem que adotei, em relação à doença do ex-presidente, a mesmíssima postura que adotei em 2009, quando Dilma ficou doente. Mas e “eles”? E a rede petralha?


Em julho de 2007, um ano e quatro meses depois de eu ter passado pelas minhas cirurgias, num desses embates sobre descriminação da maconha, recebi de um sujeito chamado “Jorge Cordeiro” uma mensagem extremamente agressiva, que não poupava das vilanias nem mesmo a minha família. Na parte publicável de sua mensagem, que dizia respeito só a mim, lia-se isto:
“Talvez, se vc fumasse maconha, não teria tido as tais bolotinhas na cabeça, né dodói?”
É isso mesmo que vocês entenderam. O cara estava dizendo que só tive tumores no crânio porque não fumei maconha.
Aí dirá alguém: “Mas que importância tem esse cara, Reinaldo? Por que falar dele”. Pois é. Ele foi nomeado pouco tempo depois o BLOGUEIRO OFICIAL DE LULA. Passou a ser o chefão do “Blog do Planalto”. A voz de Lula na Internet achava que as pessoas tinham ou deixavam de ter tumores em razão de seu bom ou de seu mau comportamento. No caso, Cordeiro estava sugerindo que o bom comportamento era fumar maconha. Como eu não havia fumado, estaria arcando com as conseqüências.
O post original está aqui. Quando ele foi nomeado, escrevi outro . Reproduzo a resposta que lhe dei em julho de 2007 (em azul). Volto em seguida.
Vamos ver, Cordeiro, se, ao imolá-lo, ao menos diminuo os pecados do mundo. Cordeiro não deve ter bolotinhas na cabeça, o que me faz supor que ele fume maconha. Problema dele, não meu. Como ele a consegue? Bem, aí é problema da polícia, já que o tráfico continua a ser um crime. É um pedacinho do que essa gente pensa. Em uma ou duas linhas, todo o horror das suas utopias se revela. Observem que ele lida com a máxima de que o doente é culpado por sua doença. Por que me nasceram tumores na cabeça? Ora, porque não “relaxei e gozei” - ao menos não à moda deles.
Exceção feita à contaminação por transfusão, a Aids, por exemplo, é uma doença associada a comportamentos de risco. Nem assim, é claro, faz sentido dizer que a culpa é do próprio doente. Não era a doença que ele buscava, mas o prazer. Daí decorre que a arma eficaz para combater a sua expansão é conjugar a divulgação de métodos preventivos (o que o Brasil faz) com o apelo às escolhas morais (o que o Brasil não faz). Há comportamentos de risco também no que respeita a formações tumorais, claro. Mas é certo que ninguém fuma, consome gordura em excesso ou deixa de se alimentar com fibras em busca de um tumor.
O remelento, vejam só, não está nem mesmo me dizendo que, se eu tivesse tido, até os tumores, uma vida mais asséptica, mais comedida, mais regrada, a doença não teria me atingido. Nada disso. Ele deve acreditar nas virtudes relaxantes da maconha e em seus mistérios gozosos, que teriam me faltado - daí os tumores. Pior do que isso: a minha não adesão a um comportamento que ele considera bacana fez com que eu pensasse essas coisas que penso. E as bolotas me vieram como uma punição. Cuidado: não ser petralha ou maconheiro provoca câncer.
Voltei
Essa foi uma das milhares de agressões que recebi e recebo ainda. São os mesmos que, diante de um acidente aéreo que mata quase duas centenas de pessoas, fazem a mímica do estupro, imaginando que atraem com violência o corpo de terceiros contra a própria pélvis, num prazer extraído sabe-se lá de que baixeza d’alma.
Nem assim, minhas caras, meus caros, vou liberar certos comentários. Não aceitarei que se pague na mesma moeda; não darei a eles o prazer perverso de supor que somos iguais. Pela simples, óbvia e boa razão de que não somos. O homem que Lula escolheu para cuidar do seu blog foi capaz de me escrever aquela enormidade. Essa é uma das razões por que não pertencemos à mesma categoria de humanos.
Eu continuarei a desejar sorte a Lula. Eu continuo a achar que isso nada tem a ver com punição ou sei lá o quê. Também não vejo ironia nenhuma do destino. Todos os dias, mundo afora, milhares de pessoas que nada fazem senão se ocupar da própria vida e da vida daqueles que amam são colhidas por infortúnios, sem que se possa inventar uma narrativa cheia de nexos causais ou simbolismos.
Os que sofrem merecem ser consolados, o que não quer dizer que precisemos concordar com seus atos. Não se trata de endurecer sem perder a ternura, como dizia aquele assassino, que isso, pra mim, é lema de remédio para a “paumolescência”, como dizia a turma do Casseta & Planeta. Trata-se apenas de escolher um padrão mínimo de civilidade e passar a operar a partir dele.
Se Lula quis levar  gente capaz de escrever aquele troço para dentro do Palácio, muito bem! No meu blog, exijo mais respeito do que o vigente no ambiente palaciano.
Texto publicado originalmente às 22h37 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo
VEJA

Um comentário que a filha de Mário Covas enviou ao blog. Ou: O que eles fazem, o que não devemos fazer - Por: Reinaldo Azevedo


Renata tem razão. O texto que vem a seguir fornece o contexto.

Um vira-lata


coto-um1Um dia ele apareceu na vilinha, não se sabe de onde. Já chegou adulto, meio labrador, meio lata, com o rabo cortado. Alguns o chamaram, então, “Cotó”. Outros o tinham por “Martim”, jamais consegui saber em razão de que marca. Estava por ali, entre as casas, havia bem uns 12 anos. Os “cachorristas”, dadas algumas características, lhe atribuíam entre 15 e 18 de vida. Contrariava a máxima de que cachorro de muitos donos morre de fome. Ele não! Estava sempre bonito, garboso, saudável.
Livre, sua simpatia era objeto de disputa. Cotó era personagem das nossas férias, dos nossos fins de semana, de muitos dos nossos momentos de alegria. No sábado, saiu para não voltar. Não dava mais pra ele. Os rins tinham parado de funcionar. Já não conseguia mais se alimentar. Só lhe restava a dor. Dor silenciosa, respiração ofegante, cansaço extremo. Foi levado ao veterinário. Um primeiro remédio o fez dormir, e outro pôs o ponto final.
Os dias podiam ser instáveis; o céu, temperamental; o sol, incerto; a temperatura, variável. Mas Cotó restituía todas as nossas esperanças de dias melhores. Era o portador da memória daquele lugar. Mais do que qualquer um de nós, sabia que um vento podia enegrecer o céu ou, então, abri-lo num azul largo e ancestral.
É provável que voltasse sempre em busca de comida — não aceitava nada que não fosse carne ou derivado, o luxento! —, e a gente confundisse aquilo com afeto. Mas quem se importa? Quem é tão vaidoso a ponto de inquirir os reais sentimentos de um cachorro?
Às vezes ele interrompia a minha leitura ou outra coisa qualquer que estivesse fazendo. Postava-se à minha frente. Encarávamo-nos, então, com camaradagem. “E aí, meu? O que é que manda?” Ele se aboletava por ali, descansava o focinho entre as patas, fechava os olhos devagar e parecia me dizer: “Isso vai se repetir para sempre. A vida pode ser assim, mansa…” E, por alguns segundos, minutos talvez, eu conseguia não pensar em nada, não querer nada, não me importar com nada. Dois camaradas satisfeitos, silenciosos, ocos de anseios, como a paisagem, como a seqüência dos dias, como o marulho mais ao fundo.
Cotó tinha a generosidade das coisas certas. Enquanto estava por ali, era como se nunca tivéssemos sido mais jovens, nunca tivéssemos sido mais saudáveis, nunca tivéssemos sido mais ágeis, nunca tivéssemos sido mais otimistas, nunca tivéssemos sido mais viçosos. Naquela pequena vila, ele nos dava a ilusão da eternidade e alimentava as nossas esperanças.
Morreu Cotó, e o tempo nos invadiu. Terei de aprender a amar outra narrativa na mesma paisagem, da qual ele não é personagem. Eu devo ter imaginado — acho que sim, não estou bem certo — que me viriam os netos e que ele continuaria por ali a atestar que nem tudo nos foge pelos vãos dos dedos, aos poucos, sem nem mesmo um suspiro audível.
Isso não é política, como vêem. É que Cotó tomou seu rumo. Lá se foi ele, sem consultar ninguém, como sempre, dono do seu nariz.
coto-partido-dois
Por Reinaldo Azevedo
VEJA

Código Florestal – Alô, senadores! Artistas têm o direito de mentir só porque são artistas? Ou: Faço um desafio a Wagner Moura, o Tiririca dos “modern(Reinaldo Azavedo)


O cineasta Fernando Mirelles, ligado à ex-senadora Marina Silva, que finge não ser política, resolveu capitanear uma campanha de artistas e famosos em geral contra o novo Código Florestal. O mais espantoso é que essas pessoas, achando-se muito “democráticas” e “modernas”, comentam um assunto que claramente ignoram e censuram um texto que claramente não leram. Só procedem dessa forma porque abusam de sua condição de “celebridades”, como se isso lhes conferisse alguma sabedoria superior.
Digam-me: qual é a diferença entre eles e Tiririca? Aquele dizia: “Sou palhaço e posso ser deputado”. Estes dizem: “Somos famosos e temos uma opinião abalizada sobre Código Florestal”.
Em alguns casos, o texto é arranjadinho; em outros, nota-se certo improviso. Todos os vídeos que vi trazem besteiras clamorosas. Comentarei vários deles ao longo dos dias. Comecemos por este de Wagner Moura, que parece ter resolvido filmar depois de uma noite agitada com o espectro… Assistam. Eu faço um desafio ao valente em seguida.

Quase ninguém viu o troço — apenas 313 exibições até agora. Estou ajudando a dar publicidade à besteira e à pressão. Não tem importância. Moura é bom ator, é fato. Esse ar meio abobalhado, cute-cute, é coisa estudada, é técnica. Deve seduzir moças que gostam de um descabelado com pinta de desamparado, sei lá. Quando ele vende serviços da TIM — ecológicos, por certo —, já aparece com um ar mais mauriçola…
Eu poderia comentar essa sua fala segundo, vamos ver, a história e a filosofia. Ele diz que “anistia” é palavra bonita, mas, no Brasil, teria sido desvirtuada. Será que o texto é de sua autoria ou foi pensado com a ajuda de Meirelles? Segundo o Houaiss, anistia é “esquecimento, perdão em sentido amplo”. No mundo jurídico, compreende o “ato do poder público que declara impuníveis delitos praticados até determinada data por motivos políticos ou penais, ao mesmo tempo que anula condenações e suspende diligências persecutórias”.
Entendo: Wagner Moura, ou quem quer tenha redigido a estrovenga, acha que anistia é “palavra bonita” desde que ele concorde com ela. Ou desde que anistiados sejam seus aliados, mas jamais os adversários. E isso, pois, seria a negação da anistia.
Artistas podem falar quantas besteiras lhes derem na telha. Jamais pedirei censura! Mas direi: “É besteira!” Mas isso é o de menos.
Desafio
Já que o rapaz decidiu debater a palavra “anistia” ao tratar do texto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), eu lhe dou uma canja publicando aqui o link para a íntegra da proposta aprovada na Câmara. Recomendo que ele leia antes.
O meu desafio é o seguinte: se ele encontrar lá a proposta de “anistia” para desmatadores, eu fecho o blog e nunca mais escrevo uma miserável palavra. Se ele não encontrar, não vou pedir que pare de representar porque sei que, em certos casos, esse negócio vicia, e as pessoas não param mais; passam a ser personagens de si mesmas — é um troço psicanaliticamente complicado, um vício. Não! Ele pode continuar: só se compromete a vir a público para dizer: “Falei besteira; comi pela mão dos outros; acreditei no que me disseram; sou um paspalho; achei que, porque sou artista, posso falar qualquer cretinice, até uma mentira”.
Facilito a sua vida. As regras para a regularização ambiental estão no Capitulo VI do texto, que é claríssimo, entre as páginas 16 e 20. Os proprietários só não serão multados se fizerem compensações ambientais, e isso não é “anistia” (”esquecimento, perdão em sentido amplo”). “Anistiados”, na prática, eles estão hoje. Não se regale na mentira, rapaz, só porque parte expressiva dos brasileiros aprova o seu trabalho de ator! Não use a sua reputação conquistada num campo para fraudar a verdade no outro.
Se topa o desafio, muito bem! Se não topa, é o caso de fechar a boca em nome do decoro, que vale até para artistas. Ou não?
Sim, comentarei a intervenção de outros valentes.
PS - Repetirei o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) nesse particular: “celebridade”, pra mim, são comunidades e famílias que produzem há 100, 200 anos, em áreas de onde os crentes de Marina querem expulsá-las.
Texto originalmente publicado às 20h39 desta quarta 
Por Reinaldo Azevedo

Irmã revela como Steve Jobs lidou com iminência da morte

'A morte não aconteceu para Steve. Ele a alcançou', diz a escritora Mona Simpson em artigo publicado no 'The New York Times'




Steve Jobs no clube de eletrônica da escola entre 1969-1972



Steve Jobs no clube de eletrônica da escola entre 1969-1972 - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs aos 14 anos



Steve Jobs aos 14 anos - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs aos 16 anos


Steve Jobs aos 16 anos - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs aos 17 anos


Steve Jobs aos 17 anos - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs em 1981


Steve Jobs em 1981 - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs em 1981


Steve Jobs em 1981 - all about Steve Jobs.com


Steve Jobs com seu filho Reed em 1995


Steve Jobs com seu filho Reed em 1995 - all about Steve Jobs.com

Steve Jobs com sua esposa Laurene na Macworld em Boston, 1997


Steve Jobs com sua esposa Laurene na Macworld em Boston, 1997 - all about Steve Jobs.com

Steve Jobs e a esposa, Laurene Powell, durante a edição 2010 do Oscar, nos EUA



Steve Jobs e a esposa, Laurene Powell, durante a edição 2010 do Oscar, nos EUA - Alexandra Wyman/Getty Images


Lisa Jobs, filha de Steve Jobs



Lisa Jobs, filha de Steve Jobs - Lisa Brennan-Jobs/Divulgação


Steve Jobs em evento na Universidade de Stanford, 2005
Steve Jobs em evento na Universidade de Stanford, 2005 - Divulgação


Steve Jobs em evento na Universidade de Stanford, 2005


Steve Jobs em evento na Universidade de Stanford, 2005 - Divulgação
 
 Os últimos minutos de vida de Steve Jobs foram repletos de inspiração, segundo relatou sua irmã, a escritora Mona Simpson, em artigo publicado neste domingo no jornal The New York Times. O panegírico havia sido lido originalmente por Mona durante um memorial reservado realizado no dia 16 em homenagem ao cofundador da Apple.
No texto, a escritora diz que o segredo da genialidade de Jobs estava em sua humildade, na capacidade de trabalhar duro, no prazer em aprender e no amor pela família. "Eu quero contar a vocês algumas pequenas coisas que aprendi com Steve ao longo dos 27 anos em que o conheci", disse.
O encontro entre os irmãos biológicos aconteceu quando ambos já eram adultos. Jobs foi dado para a adoção logo após o nascimento e só encontrou a irmã, pouco mais nova, quase três décadas depois. Ela estava em Nova York, escrevendo o seu primeiro romance, quando recebeu a ligação de um advogado falando sobre um "irmão perdido", rico e famoso, que gostaria de encontrá-la.
Divulgação
Mona Simpson, irmã de Steve Jobs
Mona Simpson, irmã de Jobs
"Como éramos pobres, e meu pai um emigrante sírio, logo imaginei que se tratava do ator Omar Sharif", disse, em tom de brincadeira, referindo-se ao ator egípcio. "O advogado se recusou a revelar o nome do meu irmão e meus amigos decidiram fazer apostas. John Travolta liderava o ranking", afirma.
Encontrar Jobs, contou Mona, foi uma transformação. Ela diz que, embora fosse uma feminista empedernida, esperou a vida inteira para amar um homem que também pudesse amá-la. "Por décadas, pensei que esse homem seria meu pai. Aos 25 anos, no entanto, eu conheci esse homem: meu irmão."
Ela revelou ainda como Jobs reagiu aos altos e baixos da carreira. "Quando ele deixou a Apple (1986), ficou muito magoado. Ele me contou sobre um jantar para os 500 líderes do Vale do Silício para o qual não foi convidado. Mesmo triste, continuou trabalhando todos os dias", escreveu a irmã.
A doença, o câncer no pâncreas que vitimaria Jobs, uniu ainda mais os irmãos. "Quando o estado de Steve piorou, ele me ligou e pediu para que eu fosse para a sua casa, em Palo Alto", disse. O tom de voz do executivo na época era de alguém que tinha perdido a bagagem no início de uma viagem.
Mesmo enquanto lutava contra o câncer, segundo Mona, Jobs continuava pensando no que seria o ideal para aquele momento: "Ele estava trabalhando nisso. A morte não aconteceu para Steve. Ele a alcançou", contou a irmã. Segundo ela, as últimas palavras do gênio criador da Apple foram: "Oh wow. Oh wow. Oh wow."
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Demografia - O papel do Brasil em um mundo com 7 bilhões de habitantes

País tem condições de receber o bebê que nasce nessa superlotação, mas para envelhecer com ele de forma saudável, alguns problemas devem ser corrigidos
Cecília Araújo
Nascida nas Filipinas, Danica é a criança-símbolo dos 7 bilhões de habitantes na Terra Nascida nas Filipinas, Danica é a criança-símbolo dos 7 bilhões de habitantes na Terra (Ted Aljibe/AFP)
"O Brasil tem agora mais pessoas em idades produtivas do que dependentes - crianças e idosos, que não trabalham. Essa janela de oportunidades tem que ser aproveitada, porque chegará o momento em que o quadro começará a mudar. Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos vai aumentar muito"
A criança que nasce no Brasil neste dia 31 de outubro de 2011, viverá em um mundo de mais de 7 bilhões de habitantes - simbolizados pelo nascimento da filipina Danica May Camacho dois minutos antes da meia-noite de domingo. Em um país com mais de 190 milhões de moradores, esse bebê já integra uma parcela da população com alta expectativa de vida. Em 2100, quando ela completar 89 anos - e o mundo chegar à marca prevista de 10 bilhões de pessoas - os idosos com mais de 80 anos representarão a maior parcela da população (13,3% dos brasileiros). E diante dessa explosão demográfica, a pergunta é: o Brasil está preparado para envelhecer com esse bebê? Para o representante do Fundo da População no Brasil, Harold Robinson, que lançou o relatório sobre a Situação da População Mundial 2011, o país vive um bom momento e está relativamente à frente do restante do mundo nesse quesito. "Embora ainda tenha muitos passos a dar", ressalva, em entrevista ao site de VEJA.

A condição favorável deve-se a uma soma de vários fatores, destaca Robinson. Muitos demógrafos acreditam que o desenvolvimento e a diminuição da pobreza e da desigualdade no Brasil - para além das políticas governamentais - estão diretamente ligados à questão da fecundidade. A relação é simples: é bem mais fácil educar um número menor de crianças. Isso também se reflete em um eficiente planejamento familiar e um papel mais forte da mulher na sociedade, que ganha mais espaço no mercado de trabalho. Assim, o tamanho das famílias diminui e, consequentemente, a relação de dependência também. Então, as mulheres podem ter seu emprego e contribuir para o crescimento da produtividade do país. Além disso, é possível investir mais nos filhos. Essa transformação já vem acontecendo há alguns anos, o que resultou em um aumento da parcela da população ativa. "O Brasil tem agora mais pessoas em idades produtivas do que dependentes - crianças e idosos, que não trabalham. Essa janela de oportunidades tem de ser aproveitada, porque chegará o momento em que o quadro começará a mudar. Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos vai aumentar muito", salienta o representante do Fundo da População no Brasil.


Conforme a população envelhece, o número de dependentes aumenta. Nascem menos crianças hoje em dia, é verdade, mas os idosos morrem cada vez mais tarde - a expectativa de vida hoje no país é de 73 anos, mas passará dos 81 a partir de 2050. Em contrapartida, o grupo de pessoas economicamente ativas - que sustentam o sistema e pagam impostos - ficará menor. "O país precisa pensar agora em políticas que garantam um aparato público adequado para quando os atuais jovens se aposentarem. Para isso, é necessária uma atenção especial à previdência pública e ao sistema de aposentadoria", ressalta. Até 2030, o Brasil deve viver uma estabilidade demográfica e, este momento, alerta Robinson, será fundamental para melhorar a condição de vida dos brasileiros por meio de políticas públicas eficientes."Fazer previsões é uma forma de ajudar os governos a saber como agir desde já nas áreas que estarão mais debilitadas no futuro e enfrentá-las mais facilmente."
VEJA

O País quer Saber 28/10/2011 às 21:05 \ O País quer Saber Magno Bacelar: uma anta maranhense amestrada por Madre Superiora


Titular absoluto do timaço de comentaristas, nosso Reynaldo-BH ficou compreensivelmente estarrecido com o vídeo que registra os melhores-piores momentos do deputado estadual Magno Bacelar na sessão da Assembleia Legislativa que aprovou a estatização da Fundação José Sarney pelo governo do Maranhão. Junto com a prova do crime, Reynaldo mandou o seguinte abaixo transcrito. Divirtam-se. (AN):
Nenhum discurso define tão bem o que seja Sarney. Não é feito por adversário. É fruto do deputado que chamou de maconheiros os participantes do Rock in Rio. Que indagou se Sarney deveria andar de jegue ao invés de helicóptero, em uma clara ofensa aos muares visto que um pretendia ser levado na sela pelos outros.
O nível dos sarneysistas é este. Odorico Paraguassú não faz frente. A ficção mais uma vez perde para a realidade. E todos podemos entender o que venha a ser o Maranhão de Sarney e quem o apoia.

Fundação José Sarney

Fabricantes terão de reduzir substância cancerígena em refrigerantes


Fabricantes de refrigerantes de baixas calorias ou dietéticos cítricos vão reduzir a quantidade de benzeno (substância cancerígena) das bebidas no prazo de até cinco anos, conforme acordo fechado com Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF/MG). As informações são da Proteste Associação de Consumidores.
O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a Ambev, a Coca-Cola e a Schincariol prevê que a quantidade máxima deverá ficar em cinco microgramas por litro.
A presença do benzeno nas bebidas foi detectada em 2009 pela Proteste ao realizar exames em 24 amostras de diferentes marcas. O Termo de Ajustamento de Conduta foi assinado agora, dois anos após o MPF instaurar inquérito civil público para apurar o caso.
Ao analisar 24 amostras de diferentes marcas, a Associação detectou a presença do benzeno em sete delas: Fanta laranja, Fanta Laranja light, Sukita, Sukita Zero, Sprite Zero, Dolly Guaraná e Dolly Guaraná diet. Em duas das amostras – Fanta laranja light e Sukita Zero – a concentração estava acima dos limites considerados aceitáveis para a saúde humana. Foram encontrados limites aceitáveis de benzeno no Dolly guaraná tradicional e light, na Fanta laranja tradicional, Sukita tradicional e no Sprite Zero.
De acordo com o MPF, a legislação brasileira, em especial o Código de Defesa do Consumidor, estabelece que os produtos colocados à venda no mercado não poderão trazer riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a fornecer as informações necessárias e adequadas a respeito.
Já que as bebidas testadas traziam ácido benzoico, era possível que algumas também tivessem benzeno, uma substância cancerígena que resulta da combinação dos ácidos benzoico e ascórbico, mais conhecido como vitamina C.Estas duas substâncias juntas, sob certas condições de exposição à luz e ao calor, podem reagir e formar o benzeno.
Como não existe um limite fixado pela Anvisa para refrigerantes, a Proteste utilizou  o  parâmetro de água potável que é de 5 micrograma por litro. Como a OMS e as autoridades sanitárias estrangeiras e nacionais não estabeleceram um limite de benzeno para refrigerantes e sucos, considera-se que, no mínimo, deve ser adotado o mesmo limite utilizado para a água potável. As marcas reprovadas estavam acima desse limite.
O MPF também expediu recomendação para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária realizasse os estudos necessários para determinar a concentração máxima, tolerável, da substância nos refrigerantes comercializados no país.
Enquanto isso, o MPF reuniu-se com os fabricantes para tentar uma solução amigável e definitiva, que pudesse proteger os consumidores. Desde o início, três deles, que representam quase 90% do mercado, dispuseram-se a acatar as orientações do Ministério Público.

Os fabricantes informaram que a formação do benzeno decorre de um processo químico geralmente desencadeado nos refrigerantes light/diet, já que a presença do açúcar inibe a formação da substância. Disseram ainda que “a eventual identificação de traços mínimos de benzeno em determinado produto pode se dar por razões diversas e alheias aos esforços da empresa, como, por exemplo, em decorrência da quantidade de benzeno pré-existente na água”.
Uol

29/10/2011 às 18:42 \ Feira Livre ‘Brados retumbantes’, de Nelson Motta

TEXTO PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA
Nelson Motta
A cada ministro que cai, ainda ecoam vozes do Planalto repetindo o bordão de que a presidenta não será pautada pela imprensa, não irá a reboque da mídia, não decidirá sob pressão. Embora todos os escândalos que levaram a quedas de ministros tenham sido levantados justamente pela imprensa.
Nunca na história desse governo a mídia e a opinião pública foram surpreendidas com algum ministro demitido por malfeitos flagrados e revelados pelo próprio governo e seus órgãos de controle.
Se a imprensa não gritasse, o ministério inicial de Dilma/Lula estaria intacto e, como dizia o ministro Orlando Silva, seria indestrutível. É por isso que o Zé Dirceu e seus colunistas militantes gritam tanto contra a “mídia golpista”. Por ser legalista demais.
Daí a obsessão de controlar os meios de comunicação por meio de conselhos a serem aparelhados por partidos e sindicatos. Inspirada nos modelos venezuelano e argentino, uma das bandeiras dessa “democratização da mídia” é a limitação da “propriedade cruzada”: quem tem televisão não pode ter rádio, jornal, portal de internet ou canal de TV paga ao mesmo tempo.
Apesar da competição acirrada no bilionário mercado publicitário brasileiro, eles querem nos proteger de monopólios imaginários, ignorando que a interação entre várias mídias é hoje uma exigência dos grupos de comunicação independentes, que os viabiliza economicamente. A produção de informação e entretenimento custa, e vale, cada vez mais.
Para manter a TV Globo, seus acionistas teriam de vender suas revistas, rádios e canais pagos. A Folha de S. Paulo teria de se desfazer do UOL. A Band teria de escolher entre suas rádios ou TVs. A RBS perderia a Zero Hora. Coitado do Sarney, teria de abrir mão de sua Rede Mirante ou da Tribuna do Maranhão.
O sonho dirceuzista é ver empresários “progressistas” comprando a CBN, a Época, o UOL e a Band News, financiados pelo BNDES, por supuesto, para “democratizar” as comunicações brasileiras. Como jamais conseguiram criar, mesmo com rios de dinheiro publico, um veículo de sucesso e credibilidade, desistiram de tentar fazer, agora querem comprar feito.
VEJA

13/07/2011 às 7:06 \ Direto ao Ponto A presidente em seu labirinto



Luiz Antônio Pagot é uma bomba com alto poder destrutivo, comprovou o  artigo do jornalista Ricardo Noblat publicado na seção Feira Livre. O detonador não foi acionado durante o depoimento no Senado nesta terça-feira. Mas o petardo não foi desativado, avisam os recados em código embutidos no falatório de cinco horas. Demitido há 10 dias pelo então ministro Alfredo Nascimento, por ordem da presidente Dilma Rousseff, Pagot ignorou o comunicado verbal e avisou que estava saindo de férias. Aos senadores, lembrou mais de uma vez que continua na direção geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Pretende voltar ao trabalho dia 21.
“Se nada for provado contra ele durante as férias, acho que a presidente  deveria mantê-lo no cargo”, emendou o senador Blairo Maggi, do PR mato-grossense, que apadrinhou a nomeação de Pagot para o comando do DNIT. A pedido do Planalto, Blairo reuniu-se no fim de semana com o afilhado para negociar o tom e o conteúdo do depoimento. Pela brandura da performance, alguma compensação de bom tamanho foi prometida ao colecionador de licitações bandidas.
Dilma começou a retirar-se do Ministério dos Transportes ao aceitar que o PR continuasse controlando a usina de licitações espertas, contratos superfaturados e propinas milionárias. Se revogar uma decisão irrevogável e reinstalar no cargo o chantagista (ou fizer-lhe qualquer tipo de afago), terá renunciado no sétimo mês do mandato ao exercício efetivo da chefia de governo. Se resistir aos vigaristas arrogantes e formalizar a demissão do pecador, estará exposta a uma sequência de detonações sem prazo para começar, mas semelhantes às que escancararam o mensalão do governo Lula.
O pântano que começa no Ministério dos Transportes vai muito além do clube dos cafajestes disfarçado de Partido da República e se aproxima perigosamente dos porões onde agiram os coletores de contribuições financeiras para a campanha presidencial de 2010. Além dos quadrilheiros do PR, ali chafurdam figurões alugados, chefões do PT que caíram na vida, cardeais devassos do Congresso e prontuários promovidos a ministros de Estado.
O diretor-geral do DNIT conhece todas as tribos que prosperam no pântano. Sabe quem são e o que fizeram caciques e índios. A reedição mal paginada de Roberto Jefferson talvez seja menos letal que a matriz. Mas Dilma é bem mais frágil que Lula. Tudo somado, Pagot tem bala na agulha para, caso a cólera supere o instinto de sobrevivência, desencadear o que pode transformar-se no mensalão do governo Dilma.
Capitular ou desistir? Ambas de altíssimo risco, as opções oferecidas a Dilma confirmam que a sucessora foi confrontada muito mais cedo do que se imaginava com o monstro nascido e criado na Era Lula. Primeiro como ministra cinco estrelas, depois como parteira do Brasil Maravilha concebido pelo padrinho, a afilhada predileta passou oito anos ajudando a consolidar o mais abjeto componente da verdadeira herança maldita: a institucionalização da impunidade dos bandidos de estimação.
Muitas vezes como cúmplice, outras tantas como protagonista, Dilma acumulou registros na folha corrida que não lhe permitem hastear a bandeira da moralidade sem ficar ruborizada. Contrariados, os parceiros de alianças forjadas no esgoto da política brasileira saberão ressuscitar histórias muito mal contadas e delinquências amplamente comprovadas. Na primeira categoria figuram dossiês criminosos ou conversas com Lina Vieira. A segunda é dominada pelas patifarias cometidas por Erenice Guerra e seus filhotes.
Ninguém promove uma Erenice a melhor amiga sem se expor a ferimentos morais que não cicatrizam. Ninguém escapa de companhia tão repulsiva sem pecados a esconder e sem cadáveres trancados no armário. Até o desbaratamento da quadrilha doméstica, antes que aparecessem as muitas provas contundentes da ladroagem, Dilma posou de vítima da boa fé. A farsa foi demolida pela foto em que, no dia da posse, a presidente confraterniza com a quadrilheira condecorada com um convite especial.
Hoje refém de aliados fora-da-lei, Dilma é também prisioneira da própria biografia. O Brasil é governado por uma presidente em seu labirinto.

Augusto Nunes - VEJA

ONGs: o caminho fácil para a corrupção

Escândalos recentes envolvendo entidades não-governamentais revelam influência de apadrinhamentos políticos. Organizações se queixam da má fama

Gabriel Castro
Escândalos envolvendo ONGs derrubaram Orlando Silva Escândalos envolvendo ONGs derrubaram Orlando Silva (Sérgio Lima/Folhapress)
Em 2006, relatório de CPI no Senado concluiu que são três os principais problemas nos convênios entre o governo e as entidades: falta de critérios claros de escolha das organizações favorecidas, desvio de finalidade na execução dos contratos e ausência de fiscalização sobre os convênios. Todos continuam existindo.
Os escândalos recentes envolvendo Organizações Não-Governamentais (ONGs), que derrubaram o ministro do Esporte, Orlando Silva, não foram casos isolados. Nos últimos anos, o Senado Federal já abriu duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar repasses para essas organizações. Uma, em 2001, analisou a má aplicação de recursos em grupos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A outra, cinco anos depois, já captava as irregularidades que derrubariam o comunista. E mostrou detalhes do montante aplicado em ONGs: entre 2000 e 2006, apenas o Ministério do Desenvolvimento Agrário já havia destinado 1 bilhão de reais às organizações.
O relatório, preparado por Inácio Arruda (PCdoB-CE), foi pensado para poupar seus camaradas. Ainda assim, o trabalho concluiu que existem três problemas principais nos convênios entre o governo e as entidades: falta de critérios claros de escolha das organizações favorecidas, desvio de finalidade na execução dos contratos e ausência de fiscalização sobre os convênios. Todos continuam existindo.
Embora seja uma contradição em termos, o financiamento estatal para ONGs não é uma invenção brasileira. O modelo já existia em países como Inglaterra e Estados Unidos. O princípio é simples: como não é competente para desenvolver atividades especializadas, em contextos regionais, o estado opta por financiar entidades da sociedade civil que possam exercer essa função de forma mais eficiente. Mas, como sempre, os corruptos enxergaram nesse modelo mais uma oportunidade para saquear o erário.
Foi durante o governo Lula que as parcerias com essas organizações se multiplicaram. Como o próprio critério de ONG é amplo, abarcando qualquer entidade sem fins lucrativos e independente do poder público, separar o joio do trigo se torna uma tarefa difícil.
Na lógica da corrupção, contratar uma ONG é mais fácil do que realizar uma licitação para uma empresa que realiza um serviço. Em 2004, VEJA mostrou o caso Ágora: uma entidade que desviou 900.000 reais dos cofres públicos graças à falta de controle. Dinheiro que deveria ser aplicado em qualificação profissional evaporou graças a um esquema que envolvia notas fiscais falsas. A lógica se repetiria em outros escândalos nos anos seguintes.
Cerca de 5.300 entidades não-governamentais integram o cadastro do Ministério da Justiça. São ONGs elevadas à categoria de Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). As entidades não são obrigadas por lei a prestar contas, embora os órgãos públicos normalmente façam essa exigência ao firmar contratos. O número de organizações cadastradas é ínfimo diante do total de entidades que existem no país: 338.000 segundo a Associação Brasileira das ONGs.
Má fama  A ONG Amigos de Franca, no interior paulista, promove cursos de inclusão digital que já beneficiaram 2.000 pessoas. E depende de doações de empresários para manter suas atividades. Rafaela Frade é coordenadora da entidade. E diz que as denúncias atrapalham a busca por apoio: “As pessoas ficam desacreditadas, acham que todas as ONGs fazem isso, que não trabalham de forma séria. Isso acaba atrapalhando na hora de captar recursos”.
A queixa é a mesma de Ormar Cardoso, que coordena a ONG Estilo de Vida, em Imperatriz (MA). A entidade desenvolve projetos de educação ambiental na região amazônica. De acordo com Ormar, tem ficado mais difícil conseguir apoio: “Muitos empresários aqui da região confundem as coisas e não querem ajudar”, diz ele. A entidade comandada pelo maranhense até já recebeu recursos públicos. Mas desistiu por causa da burocracia. Ormar se queixa também do direcionamento nas escolhas do governo. "É mais trabalho e dor de cabeça, não vale a pena mexer com recurso público. O governo vai com seus apadrinhados políticos".
Para o cientista político Antonio Flávio Testa, há mesmo um privilégio concedido a entidades apadrinhadas - embora, para as outras, os mecanismos de controle sejam eficazes: “A fiscalização pode falhar para as ONGs que são apadrinhadas. Para as outras, é rigorosa”.
Segundo o especialista, os desvios em repasses a essas entidades se avolumaram com a chegada do PT ao poder: “Essas organizações começaram a fimar contratos com o governo na gestão Fernando Henrique, com o programa Comunidade Solidária, mas havia poucos desvios porque o controle de contratação era mais rigoroso. Com a chegada do PT ao poder, houve um aparelhamento das ONGs”, afirma.
Escândalos – Parceria de ONGs com o governo estiveram no centro de boa parte das crises recentes. João Dias, o policial militar que denunciou os desmandos no Esporte, coordenava duas entidades que recebiam dinheiro da pasta. Ele diz que, para receber os repasses, as organizações precisava pagar propina de até 20% à cúpula do ministério.
Antes de Orlando Silva, Pedro Novais já havia sido atingido por outro escândalo envolvendo ONGs. Desta vez, no Amapá: verbas liberadas pelo Ministério do Turismo iam parar em entidades de fachada. Em 2009, veio à tona um esquema de favorecimento do MST por meio de entidades não-governamentais: parlamentaes destinavam emendas para essas ONGs que, na prática, eram braços do movimento que vive a desrespeitar a lei. Um ano antes, surgiram revelações de que a Universidade de Brasília repassava recursos a ONGs fraudulentas. As denúncias influenciaram a queda do então reitor Timothy Mulholland.
VEJA

Após crises, Dilma suspende o repasse de verba a ONGs

Escândalos envolvendo entidades sem fins lucrativos derrubaram 2 ministros neste ano. Avaliação vai verificar se contratos são legais e serviços, prestados

Dilma Rousseff em Brasília Dilma Rousseff em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Em vista dos recentes escândalos de corrupção envolvendo o uso de dinheiro público por Organizações Não-Governamentais (ONGs), como os que derrubaram os ex-ministros Orlando Silva (Esporte) e Pedro Novais (Turismo), a presidente Dilma Rousseff decidiu suspender pelos próximos 30 dias a transferência de verbas federais a entidades sem fins lucrativos que tenham convênios com o governo.
O objetivo da medida, que será publicada no Diário Oficial nesta segunda-feira, é avaliar a regularidade dos serviços prestados pelas ONGs, além dos contratos e termos de parcerias celebrados entre as entidades e a União. Ao fim da avaliação, segundo o texto publicado neste domingo pelo Blog do Planalto, caberá aos ministros decidir se seguem com o repasse de recursos às entidades averiguadas.
Diz o texto: “Findo o prazo, as entidades privadas sem fins lucrativos que tenham celebrado convênios, contratos de repasse ou termos de parceria cuja execução não tenha sido avaliada como regular deverão ser imediatamente comunicadas desta situação, permanecendo suspensas por até sessenta dias as transferências de recursos a tais entidades”.
Pouco após o escândalo no Turismo, a presidente Dilma Rousseff já havia alterado as regras para o repasse de verba a ONGs. O decreto, publicado na edição de 19 de setembro do Diário Oficial da União (DOU), proíbe a realização de novos contratos da União com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que não tenham prestado contas ao erário; que tenham descumprido os objetivos do convênio; que tenham desviado a finalidade na aplicação dos recursos ou que tenham praticado outros atos ilícitos na execução do contrato. As exigências previstas não se aplicam, contudo, aos termos de parceria firmados pelo Ministério da Saúde e destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Embora não seja uma invenção brasileira – o modelo de financiamento de ONG pelo governo é utilizado na Inglaterra e nos Estados Unidos - foi durante o governo Lula que as parcerias com essas organizações se multiplicaram. Como o próprio critério de ONG é amplo, abarcando qualquer entidade sem fins lucrativos e independente do poder público, separar o joio do trigo se torna uma tarefa difícil.
Na lógica da corrupção, contratar uma ONG é mais fácil do que realizar uma licitação para uma empresa que realiza um serviço. Em 2004, VEJA mostrou o caso Ágora: uma entidade que desviou 900.000 reais dos cofres públicos graças à falta de controle. Dinheiro que deveria ser aplicado em qualificação profissional evaporou graças a um esquema que envolvia notas fiscais falsas. A lógica se repetiria em outros escândalos nos anos seguintes.
Cerca de 5.300 entidades não-governamentais integram o cadastro do Ministério da Justiça. São ONGs elevadas à categoria de Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). As entidades não são obrigadas por lei a prestar contas, embora os órgãos públicos normalmente façam essa exigência ao firmar contratos. O número de organizações cadastradas é ínfimo diante do total de entidades que existem no país: 338.000 segundo a Associação Brasileira das ONGs.
Nos últimos anos, o Senado Federal já abriu duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar repasses para essas organizações. Uma, em 2001, analisou a má aplicação de recursos em grupos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A outra, cinco anos depois, já captava as irregularidades que derrubariam o comunista Orlando Silva. E mostrou detalhes do montante aplicado em ONGs: entre 2000 e 2006, apenas o Ministério do Desenvolvimento Agrário já havia destinado 1 bilhão de reais às organizações.
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Nasce nas Filipinas habitante mundial de número 7 bilhões

Menina Danica May Camacho carregará o título simbólico das Nações Unidas

Menina Danica Camacho carregará o título simbólico da Organização das Nações Unidas Menina Danica Camacho carregará o título simbólico da Organização das Nações Unidas (Erik de Castro//Reuters)
Foi no continente asiático que nasceu, neste domingo, o ser humano de número 7 bilhão do mundo. A recém-nascida Danica May Camacho, que nasceu em Manila, nas Filipinas, trouxe consigo o simbólico título e ilustra o crescimento demográfico mundial.

A garota veio ao mundo com 2,5 quilos, dois minutos antes da meia-noite, no hospital e maternidade José Fabella Memorial Hospital, centro público da capital filipina.

Seus pais, Florante Camacho e Camille Dalura, foram parabenizados por representantes das Nações Unidas, que levaram um bolo ao local.

"É muito linda. Não consigo acreditar que é a habitante 7 bilhões do planeta", comenta emocionada a mãe na sala de parto, invadida pela imprensa.

Danica receberá uma bolsa de estudos e seus pais uma quantia em dinheiro para abrir uma loja. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Poblreza, as Filipinas são o 12º país mais populoso do mundo, com 94,9 milhões de pessoas, 54% deles menores de 25 anos.

A China é o país mais populoso, com 1,350 bilhão de habitantes, seguido da Índia, com 1,240 bilhão.

Segundo a ONU, a população mundial continuará crescendo e chegará a 9,300 bilhões em 2050, e superará os 10 bilhões até o final do século.
(com Agência France-Presse)
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domingo, 30 de outubro de 2011

Afilhados lideram cargos de confiança no Esporte

Por Fernando Mello e Natuza Nery, na Folha:
Alvo de suspeitas de desvios de verbas para beneficiar o caixa do PC do B, o Ministério do Esporte lidera o ranking das pastas que mais nomearam pessoas sem nenhum vínculo com o funcionalismo público para seus cargos de confiança. Um levantamento feito pela Folha mostra que, do total de cargos de confiança desse ministério, 66% são ocupados por funcionários de fora dos quadros públicos.  O número supera o teto estipulado para a contratações de trabalhadores não concursados para órgãos federais. De acordo com o decreto 5.497, de 2005, editado pelo ex-presidente Lula, a maior parte dos cargos de livre nomeação (conhecidos pela sigla DAS) nos escalões inferiores devem ser preenchidos por funcionários públicos.
Nos cargos de nível de gerencial, 75% têm de ficar nas mãos de servidores de carreira. No Esporte, porém, eles são apenas 32%.  Para postos de assessoria, a regra é que 50% devem ser de servidores concursados. No Esporte, são 37%. Na pasta sob o comando do PC do B foram nomeados ex-presidentes e militantes da UNE (União Nacional dos Estudantes), como Wadson Ribeiro e Ricardo Capelli. Também ganharam cargos candidatos derrotados em eleições para deputado, como Andrea Alfama (AL), ou membros da direção partidária, como Maria Ivonete, secretária de formação no DF. O “desvio” do Esporte só não é proibido pela fiscalização porque é compensado por outros ministérios. Pastas como a Fazenda ou o Itamaraty têm 91% dos seus cargos de confiança ocupados por funcionários de carreira.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

No Brasil, 45% das cidades ainda não têm esgoto; em 25% dos municípios, há racionamento de água

Atlas de Saneamento do IBGE, com dados de 2008, mostra que diferenças regionais persistem. Enquanto no Sudeste 95% têm rede de esgoto, no Norte só 13% dispõem do serviço

Esgoto no bairro de Marambaia, Belém (PA) Esgoto no bairro de Marambaia, Belém (PA) (Filipe Araújo/AE)
Determinantes para a qualidade de vida, saúde e bem-estar da população, as condições de saneamento básico ainda separam grande parte dos brasileiros do que é considerado adequado em matéria de abastecimento de água e esgoto sanitário. O Atlas de Saneamento 2011, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base em dados de 2008 e divulgado oficialmente na manhã desta quarta-feira, detalha índices de quantidade e qualidade por região do país. Apesar dos avanços registrados entre 2000 e 2008, principalmente em relação à cobertura por redes de água e esgoto, persistem diferenças marcantes entre o Sudeste – mais equipado – e as regiões Norte e Nordeste, em pior situação. Desperdício e baixa qualidade do serviço também preocupam, e, não por acaso, as áreas com maiores incidências de doenças de transmissão hídrica e problemas como a dengue coincidem com as piores coberturas.

O Brasil tem, de acordo com o estudo elaborado pelo IBGE, um longo caminho rumo à universalização do saneamento. A apresentação do estudo destaca que, em 2008, apenas 33 municípios permaneciam sem abastecimento de água no país – embora, em grande parte ainda persistam formas rudimentares de captação e tratamento. Em relação ao esgoto, a situação é alarmante: em 2.495 municípios, ou 44,8% do total de cidades, não há rede coletora. Destacam-se negativamente grande parte dos estados do Nordeste e Norte, principalmente nos estados da Bahia, Maranhão, Piauí e Pará.

Água – Apesar de o abastecimento de água não ser o que mais preocupa nas cidades brasileiras, a precariedade das redes é um problema. Além de não prover um serviço com qualidade satisfatória, a forma de distribuição tem graves deficiências do ponto de vista ambiental. Os dados analisados no Atlas de Saneamento indicam um desperdício de água entre a captação e o consumidor muito acima do aceitável. O problema é maior nas cidades com mais de 100 mil habitantes. De acordo com o IBGE, 60% dos municípios a partir desse porte, no Brasil, têm níveis de desperdício entre 20% e 50% da captação. Nas cidades abaixo de 100 mil habitantes, a média de desperdício está na faixa de 20%.
A distribuição do abastecimento de água no Brasil
Informações obtidas com os próprios municípios mostram que as famílias brasileiras, mesmo onde há infraestrutura de abastecimento, não têm um serviço confiável. Cerca de 23% das cidades convivem com racionamento de água. Em 41% delas, esse racionamento é constante, causado, principalmente, por fatores como seca ou estiagem prolongada – encontrados em 66% dos municípios.
Os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) de 2008 mostram grande defasagem regional para o fornecimento de água nos domicílios. Em 2008, o abastecimento de água em pelo menos um distrito era encontrado quase na totalidade dos municípios brasileiros (99,4%). Dos 5.564 municípios, só 33 não dispunham de rede. Das cidades nessa situação, 63,3% - ou 21 munícipios – estão no Nordeste, a maior parte deles na Paraíba, com 11 municípios.
A pesquisa destaca a forma ainda lenta de redução da desigualdade entre as regiões do Brasil, em matéria de abastecimento. Para isso, é analisado o volume de água distribuído por habitante. Em 2008 foram distribuídos, diariamente, 0,32 metro cúbico, ou 320 litros de água por pessoa. Há, no entanto, grande variação entre as regiões. No Sudeste, este volume é de 0,45 m³ per capita. No Nordeste, a marca é de apenas 0,21 m³, menos da metade dos moradores da região mais bem atendida pelo abastecimento. A análise da pesquisadora Amanda Estela Guerra: “Embora o volume total tenha aumentado em todas as regiões do país, comparando-se com os números apresentados pela PNSB 2000, as diferenças regionais permanecem praticamente inalteradas.

Esgoto – A coleta de esgoto está presente em 55% dos municípios brasileiros. Já o tratamento desses resíduos só é feito em 29% deles. Há ainda grandes discrepâncias regionais. Enquanto no Sudeste as redes coletoras estão em 95% das cidades, no Norte apenas 13% têm o serviço, e somente 8% dispõem de tratamento. No Nordeste, 46% têm coleta (tratamento em 29%). No Sul há rede em 40% das cidades, e tratamento em 24%. No Centro-Oeste, o serviço de esgotamento sanitário está presente em 28% dos municípios, e o tratamento em 25%.
Serviços de saneamento básico ausentes nas cidades brasileiras, em 2008
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Crise faz universidades americanas interessarem-se como nunca pelo Brasil

Escolas dos Estados Unidos estão de olho no potencial acadêmico, nas características sociais e também no poder econômico dos brasileiros

"Brasil é um dos destaques hoje", diz Kathryn Bezella, diretora de admissão da Wharton School "Brasil é um dos destaques hoje", diz Kathryn Bezella, diretora de Wharton (Divulgação/The Wharton School)
Um estranho que caísse por acaso no campus da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, não saberia identificar pelas feições dos estudantes em que país poderia estar. Não fossem as raras bandeiras americanas hasteadas em alguns prédios, o que se vê é um ambiente cosmopolita dado por uma profusão de etnias, idiomas e hábitos distintos. Isso se deve não só à diversidade populacional dos Estados Unidos, mas também à presença crescente de estudantes estrangeiros nas instituições de ensino do país. Em 2010, eles eram cerca de 700 mil contra os 19,5 milhões de americanos matriculados em cursos superiores. E o perfil desse grupo tem mudado. Se antes os alunos de países emergentes lutavam por uma vaga em uma grande escola americana, o movimento agora é inverso. Nunca essas universidades estiveram tão interessadas nos estudantes das nações em desenvolvimento como agora, destacadamente no Brasil. “Não há como negar que muitas coisas boas estão acontecendo no Brasil, e é natural que haja um enorme interesse em relação aos alunos do país”, afirma Kathryn Bezella, diretora de admissão de Wharton, a escola de negócios da Universidade da Pensilvânia. Para além das razões meramente acadêmicas, esse olhar mais interessado para as nações emergentes deve-se a outros aspectos, com destaque para a crise econômica que afeta os países ricos.
O interesse ocorre por fatores econômicos e comportamentais. O primeiro diz respeito ao fato de o Brasil enviar muito menos estudantes às universidades americanas que outros dois BRICS: China e Índia. E a visão unânime das instituições é que há enorme espaço para que esse número aumente. Na universidade Drexel, também na Filadélfia, de um total de 1.500 alunos estrangeiros, apenas dez são brasileiros, enquanto chineses, indianos e coreanos lideram. O mesmo acontece na Universidade da Califórnia, no campus de Berkeley, onde há 14 brasileiros entre 867 estudantes não americanos.
Em 2010, 8.786 candidatos do Brasil foram aceitos em instituições dos EUA. Já no caso da China, esse volume chegou a 127.628, enquanto o total de indianos foi de 104.897. Ainda que pequena, a participação brasileira tem aumentado progressivamente, segundo o Institute of International Education (IIE). Em Wharton, o número de alunos brasileiros em um curso de MBA dez anos atrás era, em média, de cinco. Em 2011, esse número praticamente triplicou. “Nossa escola sempre teve a característica de olhar para o mercado global, e o Brasil é um dos destaques hoje. Além disso, temos grupos de ex-alunos brasileiros que trabalham muito bem para ampliar a participação do país em Wharton”, afirma Kathryn Bezella.
Um termômetro desse movimento é a quantidade de vistos que o consulado dos Estados Unidos tem concedido a brasileiros interessados em todos os tipos de curso em território americano. De janeiro a outubro deste ano, foram expedidos 8.565 vistos para estudantes somente na unidade da capital paulista. Se mantido o ritmo, o total no ano deve beirar os 10.000 vistos. “E o número de pedidos não para de crescer”, conta Mayra Alvarado, vice-cônsul dos EUA no país. Ao longo do ano passado foram concedidos 8.700 vistos dessa modalidade em todo o Brasil. Atualmente, segundo a diplomata, o índice de aprovação para as inscrições de vistos de estudante é acima de 95%.
O fator crise – Outra razão econômica essencial para explicar o interesse das universidades americanas no Brasil está nos efeitos da crise internacional. Com as turbulências produzidas pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana em 2008, boa parte da poupança das famílias foi dizimada, o nível de desemprego atingiu dois dígitos em alguns estados e muitas linhas de crédito encolheram, inclusive a estudantil. Com isso, tal como as empresas que passaram a buscar outros mercados para crescer, as universidades trilharam o mesmo caminho.
Por fim, a valorização do real ante o dólar tornou esse precioso investimento em educação numa universidade americana mais acessível aos brasileiros, ainda que os valores continuem bem altos. Um MBA de um ano na Harvard Business School, com os custos de moradia inclusos, não sai por menos de 100 mil dólares (168.440 reais), ao passo que no brasileiro Insper, o valor de um curso semelhante é, em média, de 50 mil reais. “A crise estimula a procura das universidades por mais alunos, mas é importante lembrar que elas também buscam diversidade cultural. Não se trata apenas de atrair recursos”, afirma Thais Burmeister Pires, gerente da representação no Brasil do EducationUSA, órgão do governo americano para a educação. A entidade promoveu em São Paulo, na semana passada, o evento "American Education Expo Scholarship Fair", que reuniu agentes de admissão de 23 universidades norte-americanas. O objetivo era justamente apresentar as instituições para estudantes interessados em cursos de graduação, mestrado, doutorado e extensão.
Mudança dos alunos – Outro aspecto que motiva a melhor percepção das universidades americanas sobre os brasileiros é a própria mudança de perfil dos alunos – hoje mais preocupados em contribuir para o avanço do país. Além disso, de acordo com Kathryn Bezella, de Wharton, há um interesse constante e geral em relação a todos que chegam do Brasil. “Hoje, vemos os brasileiros em posições de liderança em grupos de trabalho e pesquisa dentro da universidade. Isso não acontecia anos atrás. Todos querem conversar com eles sobre o Brasil e saber o que eles pensam sobre as coisas. Sem dúvida alguma, são alguns dos alunos mais notórios e bem relacionados que temos”, afirma.
As transformações dos alunos brasileiros no exterior foram observadas de perto pela Fundação Estudar – instituição criada em 1991 pelo trio de sócios da AB-Inbev, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, e que financia a formação de talentos do mundo dos negócios e do terceiro setor. Segundo a diretora da Fundação, Thais Junqueira Franco Xavier, os estudantes atuais são bem diferentes dos de gerações anteriores. “Houve uma geração de estudantes que iam para o exterior, estudavam e voltavam para o mercado financeiro, como a geração do Garantia, por exemplo. Eles estavam preocupados em crescer na carreira e ganhar dinheiro. Hoje, eles têm outras motivações”, afirma Thais.
Os alunos de hoje – envolvidos em comissões de negócios e liderando grupos de estudo – não apenas fazem bonito nos campi, como se empenham na ponte entre a experiência acadêmica e o setor corporativo nacional. Há casos, inclusive, de estudantes brasileiros que trazem delegações inteiras de alunos estrangeiros para visitar empresas do país, como a Natura, a Ambev e a Gerdau. O objetivo é conhecer a fundo os modelos de negócio criados por aqui, e que deram certo. “Hoje, os novos bolsistas que vão para fora pensam, acima de tudo, em melhorar o Brasil. E nunca houve uma geração tão talentosa e preparada com um objetivo assim”, afirma Thais.
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Doença de Lula: jornalistas e cientistas políticos parecem Sheldon, do “The Big Bang Theory”

A maioria já deve ter assistido a algum episódio do engraçadíssimo “The Big Bang Theory”. Certos jornalistas e também “alguns cientistas sociais” sofrem do “Complexo de Sheldon”: tudo tem uma explicação, sempre ancorada em sólidos fundamentos, por mais tola e inútil que seja. É o caso agora da doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ficar desenhando cenários a partir do que se tem hoje é de uma espantosa inutilidade, que deixaria Leonard, o físico experimental, estupefato. É por isso que ele, apesar de meio bobalhão, como os outros, é o único que arranja mulher… A quantidade de especulação que se está produzindo é uma coisa fabulosa. E o que é pior: contra a história e a experiência empírica.

“A candidatura Lula em 2014 se inviabilizou de vez”…
“Se Lula não puder se esgoelar nos palanques, diminui a sua importância no pleito”…
“A política não será mais a mesma depois disso”…
Tá bom! Se é preciso dizer alguma coisa, pode ser até isso. Mas convém olhar um pouco para a história recente do Brasil. Pra começo de conversa, não se conhece ainda a gravidade da moléstia. Se a hipótese mais otimista dos médicos se confirmar, Lula estará pronto para a campanha de 2012, ainda que possa reduzir o ritmo planejado. A sua presença nos palanques e na TV, no entanto, reforçará os aspectos mitológicos — irracionais, como em todo mito, mas politicamente eficazes — de sua figura.
O país acaba de passar por uma experiência que falseia esses juízos definitivos. É preciso olhar um pouco para a escolha recentemente feita pelo eleitorado. É bem provável que, num país como os EUA, por exemplo, a candidatura de uma Dilma Roussseff tivesse naufragado junto com o diagnóstico de câncer. Não por maldade, impiedade ou frieza do eleitorado, mas por razões culturais, em nome do velho pragmatismo: “Vai que ela não se cure ou volte a ficar doente…”
No Brasil, conforme o antevisto neste blog (está em arquivo), a doença reforçou a imagem da mulher corajosa, destemida, que enfrenta desafios. Em 26 de abril de 2009, dois dias depois do anúncio da doença de Dilma, escrevi:
“Por aqui [Brasil], há uma chance nada desprezível de se transformar o que é obviamente uma fragilidade num ativo político-eleitoral. Como já disse, a semente foi lançada na coletiva da tarde de ontem. Dilma se saindo bem no tratamento - o que é o mais provável segundo os médicos -, talvez o Planalto se preocupe menos com a reação do eleitorado brasileiro - que também anda sensível às histórias de superação pessoal como exemplos morais de superação coletiva - do que com a reação do PT.”
Acho que acertei, não é mesmo?
Lembro que a imprensa americana explorou, e não foi pouco, o câncer de pele que John McCain, o adversário de Barack Obama, tivera muitos anos antes. Sua saúde e sua idade, diga-se, eram pautas permanentes. E essas questões jamais eram abordadas para lhe exaltar o destemor, a superação, a coragem, a determinação, o vigor… Nada disso! Falava-se abertamente do risco que representava o voto num candidato com aquele histórico. Em coisas assim, a maioria dos americanos é de um jeito, e a maioria dos brasileiros é de outro. Por aqui, uma abordagem principalmente pragmática de um assunto como esse é considerada ofensiva.
Assim, descarte-se o câncer como interdição para a disputa política. Não é. Tudo vai depender de como evolui a saúde do ex-presidente da República. Caso o governo Dilma caminhe para um quadro de impopularidade, anunciando-se dificuldades para a reeleição — E ISSO NÃO ESTÁ DADO HOJE, DESTAQUE-SE — e caso Lula esteja sem a doença (a palavra “cura”, em casos de câncer, precisa ser empregada com mais cuidado), ele será o candidato do PT. É simples assim. E com o ativo eleitoral de quem “venceu o mal”. Será “menas” verdade, mas não importa. A candidata Dilma, por exemplo, foi declarada “curada”, o que é tecnicamente falso, como sabe qualquer oncologista.
O que estou dizendo é que nada de definitivo se estabelece no cenário por enquanto. 2014 não está nem mais nítido nem mais opaco do que estava antes do anúncio deste sábado. Além de estar longe demais! Quanto a 2012 — dada a exploração política da doença de Dilma no passado —, os petistas sempre podem optar por fazer do limão uma limonada. Cumpre lembrar que, naquelas paragens, inexiste tema que não possam ser convertido em moeda político-e eleitoral. Quando não se tem limite, o câncer não é um limite.
Por Reinaldo Azevedo

lDe braços dados com os meus leitores - Só os que acreditam em bandidos a soldo se surpreenderam com o que escrevi sobre Lula. Este blog tem história, arquivo e memória!(Reinaldo Azevedo)

Os leitores que conhecem este blog e que me lêem habitualmente não se surpreenderam com o que escrevi sobre a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aqueles que caem no conto de vigaristas e que acreditam nas coisas que me são atribuídas —  não naquelas que eu efetivamente escrevo — se disseram surpresos. Estava na igreja quando recebi a notícia, via SMS. Dei instrução para que se publicasse a informação e se tomasse extremo cuidado com os comentários.

Tinha um compromisso familiar — o batismo do queridíssimo Thiago, de quem nos tornamos padrinhos —, e só voltei à minha casa no fim da tarde. Escrevi, então, o post acima e li os comentários do outro, excluindo muitos que me pareceram acima do tom. Fernando Oliveira, que nos ajuda (a mim e à Dona Reinalda) na mediação dos comentários, é competente e criterioso, mas se trata de uma operação sempre delicada, que envolve aspectos também subjetivos.
Antes que prossiga, uma observação importante. Ser “anti-Reinaldo Azevedo”, atacar-me, ainda que de modo estupidamente gratuito, rende grana. Os que o fazem, sem exceção, são patrocinados por dinheiro público — propaganda de governo ou de estatais. Virou uma profissão. Quem paga deve saber por quê. Quem recebe também. Não dou bola. Meu compromisso é com os meus leitores.
Ontem, em pleno sabadão, este blog recebeu 90.121 visitas. Agredir-me é uma forma de tentar existir na rede — sem contar que se trata, como é verificável, de uma profissão, de um meio de vida. É um troço moralmente miserável, mas, às vezes, o sujeito não tem outra opção na carreira; é o que resta a ex-jornalistas convertidos em esbirros do oficialismo. Sugiro, a propósito, aos admiradores dessa página que ignorem os valentes. Não entrem nessas páginas suspeitas para bater boca como comentaristas. Estão em busca de visibilidade.
Surpresa por quê?
Sou menos vaidoso do que muitos supõem ou acusam, mas tenho alguns orgulhos. Um deles é pensar com coerência e não mudar de acordo com o vento. No dia 25 de abril de 2009, quando a então ministra Dilma Rousseff fez o anúncio de sua doença, escrevi o texto “A atitude digna de Dilma”. Lá está com todas as letras:
“(…) doença não é categoria de pensamento. Doença não serve para distinguir pessoas, nem para o mal nem para o bem. No meu mundo, homens e mulheres são mesmo imperfeitos, têm problemas - inclusive os de saúde. Mas não se conformam com eles. Os males que temos, no corpo e na alma, têm de ser combatidos.
Espero, sinceramente, que a ministra vença a sua doença. E aproveito para dar a diretriz do blog neste caso. Será considerado um inimigo desta página aquele que ousar fazer o que faz a escória que combato: usar essa questão para atingir politicamente a pré-candidata do PT. A Dilma que combato é a que lidera a farsa política do PAC. A Dilma que luta, como todos nós, contra os seus males merece o meu aplauso.”
Faço, quando é pertinente fazer, a devida distinção entre “a pessoa” e “o político”. É claro que muita gente tenta embarcar nessa diferença para chamar “questão pessoal” o que é mera apropriação do dinheiro público. Eu escolhi a civilização.
No dia 26 de abril de 2009, num texto intitulado “A doença sem metáforas”, apontava o trabalho de “gente que vem lá do submundo do subjornalismo para tentar borrar a área de comentários, fazendo um esforço para caracterizar os leitores desta página como brucutus que não sabem a diferença entre dramas privados e questões públicas.” Acrescentei: “E agem assim precisamente porque eles não distinguem uma coisa de outra. É preciso que arrastem para a lama aqueles que consideram adversários para justificar seu próprio vício de se espojar no lodo.” Nesse texto, eu já apontava o risco de que os petistas fizessem uma exploração eleitoreira do evento a partir de uma fala da própria Dilma na entrevista coletiva: Aliás, nós, brasileiros, temos esse hábito de sermos capazes de enfrentar obstáculos, de transpô-los e de sair inteiros do lado de lá.”
Muito bem! No dia seguinte, 27 de abril de 2009, Fernando Haddad, ministro da Educação, caia de boca no câncer eleitoreiro. Para a minha estupefação, afirmou: “Imagino que [o câncer] possa até fortalecer [a ministra] pela sua própria trajetória, pelos desafios que ela já venceu. Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país”. Entenderam? Haddad via a doença como um ativo eleitoral e como uma metáfora. E não estava sozinho.
A reflexão mais grotesca, e não há surpresa nisto, foi feita por Marco Aurélio Garcia sobre a qual escrevi no dia 28 de abril de 2009, presenteando-o com um texto intitulado “A voz do tártaro: dirigente do PT reflete sobre os benefícios eleitorais do câncer”. Dizendo ter conversado com um filho médico, afirmou o bruto:
“Do ponto de vista médico, ela tira isso aí de letra. Do ponto de vista político, ele disse que isso vai reforçar a candidatura dela.
Eu, que já enfrentei situações parecidas, não tenho a mínima dúvida de que nossa ministra Dilma já se saiu bem desta, inclusive a coragem com que enfrentou, a franqueza. Ou seja, isso deve ter impactado muito bem na opinião pública do País”.
No dia seguinte, 29 de abril de 2009, escrevi então o artigo “Câncer no palanque: um ‘case’ de Comunicação. E notava:
“Faltavam a Dilma qualidades de, digamos assim, ‘mãe dos pobres’ - assim como Lula é o pai. Ela era tão-somente a mãe do PAC, algo muito impessoal, frio, que não vinha rendendo os necessários dividendos eleitorais. Ninguém inventou uma doença para Dilma - isso é uma bobagem. A invenção é outra. Trata-se de uma personagem: UMA MULHER DOENTE, CURADA PELA CORAGEM. Essa é a peça publicitária, sobre a qual os próprios petistas falam com destemor; mais do que isso: tratam do assunto com uma falta de vergonha que é muito característica.”
Vergonha na cara
Não! Eu jamais faria, ou permitira que se fizesse, baixa exploração política de um tema como esse. Como digo no texto lá do alto, sobre Lula, eu acho detestável que se possa politizar o câncer, que a doença seja tratada como metáfora, como punição moral, como conseqüência de nosso eventual mau comportamento. E, como está fartamente demonstrado aqui, não assumi essa postura agora. Há mais de dois anos, com Dilma, atuei da mesma maneira. E a razão é simples: eu sei o que eu penso, e penso o que penso. Não emprego instrumentos que considero ilícito que meu adversário empregue. Do mesmo modo, não acho que ele só tem legitimidade se operar com os meus critérios. E nada disso me impede ser bastante duro com aquilo que repudio.
É bom provar o que se diz, não? O que vai acima desmonta duas farsas: 1) a dos vigaristas do subjornalismo, que pretendem me atribuir uma prática e um pensamento que não são meus para me caracterizar como truculento porque, assim, disfarçam a própria truculência a serviço do oficialismo, e 2) a dos petralhas; eles, sim, conforme o demonstrado, levaram o câncer para o palanque e para a rinha política.
“Mas e então, Reinaldo, como é que ficamos?” Ficamos como estávamos. Nego-me a considerar essa gente o meu norte moral e a reproduzir as suas práticas. A Internet está aí. Devo ter sido o primeiro jornalista, talvez no mundo, a considerar inaceitáveis as práticas daqueles que derrubaram o homicida Muamar Kadafi. Não precisei que Obama se dissesse chocado para, então, poder ancorar em alguma referência politicamente correta a minha própria indignação.
Não são meus adversários que ditam meu norte moral. E eles só são meus adversários porque acreditam em coisas em que não acredito, porque fazem coisas que eu não faço, porque querem um mundo que eu não quero.
Por Reinaldo Azevedo

O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!


 Eu espero, de verdade!, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recupere plenamente. E peço aos leitores que sejam comedidos ao relacionar críticas de natureza política ao estado de saúde do petista. Cortei alguns comentários que me pareceram além do aceitável, o que não quer dizer que eu concorde com muitos outros que foram publicados. A doença de Lula não pode cercear a liberdade de expressão, mas costumo apelar, em momentos assim, a uma palavra que me é muito cara: decoro. Não existe decoro sem ponderação.

Boa parte do que Lula representa, a meu juízo, tem de ser vencido se quisermos um país responsável, mas é o amadurecimento da sociedade brasileira que tem de lograr esse propósito. Que ele continue com saúde para que possa ser enfrentado por aquilo que pensa, diz e faz. Repito aqui, pois, a recomendação que fiz por ocasião da doença da então ministra Dilma Rousseff. Sim, foram os petistas a transformar o câncer da agora presidente em ativo eleitoral, o que apontei aqui. Marco Aurélio Garcia chegou a sugerir que aquilo poderia render votos. Talvez façam o mesmo com Lula, tão logo ele esteja bem, sendo apontado como a nova Fênix nos palanques de 2012. Hugo Chávez leva ao paroxismo a exploração vigarista de seu mal. Se os petistas repetirem a dose, cumpre denunciá-los, como denunciei a manipulação no caso Dilma. Mas nada disso deve levar os que não simpatizam com o petismo a cruzar a linha do bom senso e do bom gosto. Comportamento de petista não é um padrão que se deva usar para balizar o nosso próprio comportamento.
Já escrevi isso aqui e lembro ainda uma vez. Quando extraí dois tumores do crânio, em 2006, conheci de perto as piores baixezas — e, de certo modo, conheço ainda. Basta eu informar aqui que me ausentei por algum tempo ou que atrasei um pouco a postagem porque tinha ido ao médico, e lá vem a corrente dos sórdidos, fazendo sempre os piores votos: os delicados pedem a minha morte; os brutos não são tão generosos…
Nada disso, minhas caras, meus caros! Somos gente de outra natureza. Naquele 2006, uma pessoa que eu considerava amiga, mas com quem mantinha severas divergências, enviou-me, um dia antes da minha internação, um e-mail — que ela deve ter julgado muito terno e amigo —, em que misturava as nossas diferenças ideológicas com o meu estado de saúde. Eu sou cristão, fazer o quê? Confesso que já tentei renunciar à fé, mas não consegui. Consolar os aflitos é coisa que voa nas asas dos anjos. Fazer votos para que um doente “saia melhor” e “mais lúcido” do sofrimento cheira a enxofre. Nunca mais foi minha amiga, nunca mais mereceu nada além do meu desprezo e do meu asco.
Que Lula se recupere, sim! Para que possamos dizer a ele que está errado em muita coisa. Para que sirva de referência, saudável e lúcida — dada a lucidez possível de seu pensamento —, de uma porção de coisas que não queremos para o Brasil.
O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!
A educação pelo câncer
Enviam-me aqui um texto de Gilberto Dimenstein, um dos monopolistas da bondade de que a nossa imprensa anda cheia. O título de sua crônica é este: “Câncer de Lula vai servir de lição”. Santo Deus! Segundo o jornalista, “o país vai conhecer, como nunca conheceu, os efeitos no cigarro, apesar de tantas campanhas realizadas há tanto tempo.” Ele lembra que o tumor do ex-presidente apareceu “justamente na laringe, por onde passa a habilidade de Lula em convencer as pessoas em seus discursos.” Achou que era pouco e avançou na conclusão: “Infelizmente é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes.”
Dimenstein lembra aquele meu interlocutor, que passou a merecer o meu desprezo. O sentido de sua crônica horrível é este: “Viu? Quem  mandou fumar?” Não pára aí: “Justo na laringe, hein???” E encerra com um norte moral: O terror é didático.
É claro que já antevejo todas as pautas que vão pipocar sobre o câncer de laringe e sua relação com o cigarro. Dado o contexto, fazem sentido. Lula é personalidade pública. O que acontece a pessoas como ele tem sempre grande repercussão. Mas eu realmente repudio essa tentativa de se ver a doença pelas lentes de uma espécie de moral, ainda mais quando se conclui que o medo ilumina a razão.
Em síntese: Lula não está doente porque quer, não está doente porque merece, não está doente para ter uma lição de vida. Estará hoje nas minhas orações. Doenças não tornam a gente nem melhor nem pior. Elas só nos ensinam que é preciso vencê-las. O resto é mistificação de tolos que acreditam na didática ou na pedagogia do tumor. Por alguma razão, certo cretinismo pretende que um nódulo vai ensinar aos doentes o que não lhes ensinaram nem Deus nem a ciência.
Torço para que Lula saia incólume dessa. Força aí, meu Apedeuta!
Texto publicado originalmente às 19h48 deste sábado
Por Reinaldo Azevedo